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O açúcar é mais do que um simples adoçante na mesa dos brasileiros; ele representa uma das principais riquezas do agronegócio nacional, consolidando o Brasil como líder mundial na produção e exportação dessa commodity. Em pleno 2025, o setor sucroenergético brasileiro segue como um pilar essencial da economia, impulsionado por avanços tecnológicos, condições climáticas favoráveis e uma demanda global crescente.
Neste artigo do XConecta Agro Brasil, exploramos em profundidade o papel do açúcar no coração do agro brasileiro, com dados atualizados de 2023, 2024 e projeções para 2025, destacando sua relevância econômica, desafios e perspectivas futuras.
O Setor Sucroenergético Brasileiro: Um Gigante Global
O Brasil mantém sua posição de maior produtor e exportador de açúcar do mundo, um título que reflete décadas de investimentos em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento. A cana-de-açúcar, base do setor sucroenergético, é cultivada em mais de 10 milhões de hectares, com destaque para o estado de São Paulo, que responde por cerca de 54% da produção nacional. Em 2024, o país alcançou um marco histórico ao exportar 38,23 milhões de toneladas de açúcar, gerando uma receita cambial de US$ 18,60 bilhões. Esse desempenho reflete um aumento de 22,2% no volume exportado e 18% na receita em comparação com 2023.
Produção e Exportação em 2023 e 2024
A safra 2023/24 foi marcada por condições climáticas desafiadoras, como chuvas irregulares e estiagens prolongadas, que impactaram a produtividade em algumas regiões. Mesmo assim, o Brasil produziu cerca de 42 milhões de toneladas de açúcar, mantendo sua liderança global. Já em 2024, a recuperação parcial das condições climáticas e a alta demanda internacional impulsionaram os números, com a produção estimada em 44 milhões de toneladas até o final da safra 2024/25, conforme projeções da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Recordes de Exportação em 2024
O ano de 2024 consolidou o açúcar como um dos protagonistas das exportações agrícolas brasileiras. Países como China, Índia e Emirados Árabes Unidos foram destinos chave, com o porto de Santos escoando 77,6% do volume total exportado, cerca de 29,6 milhões de toneladas. Esse recorde, no entanto, veio acompanhado de uma leve queda no preço médio por tonelada, de US$ 500 em 2023 para US$ 490 em 2024, refletindo a pressão de uma oferta global mais robusta e a concorrência com outros produtores, como a Tailândia.
Perspectivas para 2025
Para 2025, as projeções são otimistas, mas cautelosas. O Itaú BBA estima um superávit global de 4,4 milhões de toneladas na safra 2025/26, o que pode aliviar a pressão sobre os preços internacionais. No Brasil, a expectativa é de que a produção alcance entre 45 e 46 milhões de toneladas, dependendo das condições climáticas e dos investimentos em renovação de canaviais. A demanda por açúcar brasileiro deve permanecer elevada, especialmente em mercados emergentes da Ásia e África, que buscam alternativas sustentáveis ao açúcar de beterraba produzido no hemisfério norte.
A Cana-de-Açúcar: O Motor do Setor Sucroenergético
A cana-de-açúcar é a espinha dorsal do setor sucroenergético brasileiro, sendo cultivada em larga escala desde o período colonial. Hoje, ela não apenas abastece o mercado de açúcar, mas também é a principal matéria-prima para a produção de etanol, um biocombustível estratégico para a matriz energética nacional e global.
Dados de Produção da Cana em 2023 e 2024
Na safra 2023/24, o Brasil colheu aproximadamente 650 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma leve queda em relação às 654,5 milhões de toneladas da safra anterior, devido a condições climáticas adversas. Já em 2024, a produção subiu para cerca de 670 milhões de toneladas, beneficiada por chuvas mais regulares no início do ano e pela expansão de áreas plantadas em estados como Goiás e Mato Grosso do Sul.
Distribuição Regional da Produção
O estado de São Paulo continua sendo o líder na produção de cana, com 54,1% do total nacional em 2024, produzindo cerca de 362 milhões de toneladas. Outras regiões, como o Nordeste (especialmente Alagoas e Pernambuco) e o Centro-Oeste, também têm ganhado relevância, contribuindo com 15% e 20% da produção, respectivamente.
Sustentabilidade na Produção de Cana
A sustentabilidade é um tema central no setor sucroenergético brasileiro. Desde a eliminação da queima da palha da cana em São Paulo, iniciada nos anos 2000, até o uso de bioinsumos e tecnologias de agricultura de precisão, o Brasil tem se posicionado como referência em práticas agrícolas sustentáveis. Em 2024, cerca de 70% da energia consumida pelas usinas sucroenergéticas foi gerada a partir da biomassa da cana, reduzindo a pegada de carbono do setor.
Inovações Tecnológicas
A adoção de tecnologias como drones para monitoramento de lavouras, sensores de umidade e softwares de gestão agrícola tem aumentado a produtividade por hectare. Em 2025, espera-se que o uso de inteligência artificial (IA) para prever safras e otimizar o plantio se torne ainda mais comum, consolidando o Brasil como líder em inovação no agro.
Impactos Econômicos do Açúcar no Agronegócio Brasileiro
O açúcar não é apenas um produto agrícola; ele é um motor econômico que movimenta cadeias produtivas inteiras, desde o campo até a indústria e o comércio internacional. Em 2023, o setor sucroenergético contribuiu com cerca de R$ 95,18 bilhões para o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuário, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), ocupando o quarto lugar entre os principais produtos do agro.
Geração de Empregos
O setor emprega diretamente mais de 1 milhão de trabalhadores no Brasil, com picos sazonais durante a safra. Em 2024, o aumento da produção elevou a demanda por mão de obra qualificada, especialmente em áreas como operação de máquinas agrícolas e logística. Estima-se que, em 2025, o crescimento do setor gere cerca de 50 mil novos empregos diretos, conforme projeções do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Impacto nas Exportações
O açúcar responde por cerca de 9,9% das exportações do agronegócio brasileiro, sendo o quarto setor mais representativo na pauta comercial do país. Em 2024, os US$ 18,60 bilhões gerados pelas exportações de açúcar reforçaram a balança comercial brasileira, ajudando a compensar quedas em outros segmentos, como o de grãos.
Contribuição para o PIB
Em 2023, o agronegócio como um todo representou 23,8% do PIB brasileiro, e o setor sucroenergético teve um papel significativo nesse resultado. Apesar de uma queda no PIB do agro em 2024 (estimada em 2,49% até setembro, segundo o CEPEA), a recuperação no terceiro trimestre, com alta de 1,26%, foi impulsionada em parte pelo desempenho do açúcar e do etanol.
Desafios do Setor Sucroenergético em 2025
Apesar dos números impressionantes, o setor enfrenta desafios que podem impactar sua trajetória em 2025. Desde questões climáticas até a volatilidade dos preços internacionais, os produtores brasileiros precisam se adaptar para manter a competitividade.
Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas são uma ameaça constante. Em 2023 e 2024, estiagens prolongadas no Centro-Sul do país reduziram a produtividade da cana em até 10% em algumas regiões. Para 2025, o Sistema Nacional de Meteorologia prevê um cenário de chuvas irregulares, o que pode exigir maior investimento em irrigação e variedades de cana resistentes à seca.
Logística e Infraestrutura
A logística segue como um gargalo. O transporte do açúcar até os portos, especialmente Santos, depende de uma infraestrutura rodoviária que nem sempre acompanha o ritmo das safras recordes. Em 2024, o BNDES aprovou R$ 216,6 milhões para projetos de ampliação de armazéns, mas investimentos em ferrovias e hidrovias ainda são insuficientes.
Concorrência Global
A Índia, segundo maior produtor mundial de açúcar, projeta uma safra de 32 milhões de toneladas em 2025/26, o que pode pressionar os preços internacionais. Além disso, a Tailândia e a Austrália têm ampliado sua participação no mercado, desafiando a dominância brasileira.
Volatilidade de Preços
Os preços do açúcar no mercado internacional oscilaram em 2024, fechando fevereiro de 2025 a US$ 19,51 por libra-peso. Para 2025, a perspectiva de superávit global pode levar a uma queda nos preços, exigindo estratégias de hedge e diversificação por parte dos produtores brasileiros.
O Futuro do Açúcar no Agro Brasileiro
O futuro do açúcar no Brasil está intrinsecamente ligado à inovação, à sustentabilidade e à capacidade de adaptação. Em 2025, o setor sucroenergético deve continuar sendo uma “doce riqueza” para o agronegócio, mas com um olhar atento às tendências globais e aos desafios locais.
Diversificação com Etanol
A produção de etanol, que utiliza a mesma matéria-prima do açúcar, é uma alternativa estratégica. Em 2024, o Brasil produziu 30 bilhões de litros de etanol, e a retomada da demanda por biocombustíveis, especialmente na Europa e nos EUA, pode equilibrar a oferta de cana entre açúcar e etanol em 2025.
Mercados Emergentes
A expansão para mercados emergentes, como a África Subsaariana e o Sudeste Asiático, é uma oportunidade. Esses países, com populações crescentes e economias em desenvolvimento, têm aumentado a demanda por açúcar brasileiro, oferecendo um contrapeso à saturação em mercados tradicionais.
Sustentabilidade como Diferencial
A pressão por práticas sustentáveis só aumenta. Em 2025, certificações como a Bonsucro devem ganhar ainda mais relevância, valorizando o açúcar brasileiro no mercado internacional e atraindo investimentos de fundos ESG (Environmental, Social, and Governance).
Tecnologia e Produtividade
A integração de tecnologias como a agricultura 4.0, com uso de big data e IA, pode elevar a produtividade média da cana de 75 toneladas por hectare para até 85 toneladas em 2025, segundo especialistas do setor. Isso reforçará a competitividade do Brasil frente a outros produtores globais.
Conclusão
O açúcar segue no coração do agronegócio brasileiro, uma “doce riqueza” que combina tradição e modernidade. Em 2023 e 2024, o setor demonstrou resiliência diante de desafios climáticos e econômicos, alcançando recordes de exportação e consolidando sua importância para a economia nacional. Para 2025, as perspectivas são de crescimento moderado, com foco em sustentabilidade, inovação e diversificação.
Na XConecta Agro Brasil, continuaremos acompanhando de perto esse segmento vital, trazendo análises técnicas e atualizadas para quem vive o agro no dia a dia.
O açúcar brasileiro não é apenas um produto; é um símbolo da força e da capacidade do país de adoçar o mundo com sua produção.Leandro Gugisch